segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

"Saudade... já nem sei se é a palavra certa para usar!"

Quarta-feira, 13/01

Em Kharagpur há uma semana e um dia agora, tive oportunidade de ir conhecer a ONG que a Lua trabalha e também começar um trabalho por lá. O carro da ONG chegou perto das 11h da manhã para nos pegar em casa e, desde então, comecei a estranhar. O carro é uma camionete preta enorme, de marca nacional, e de muito boa qualidade.

Seguimos até lá e o prédio é grande e relativamente bonito - comparando com o contexto em que está inserido - mas quando fui visitar as crianças nas salas de aula, não pude nem pude tirar fotos, porque não tinha luz onde elas estavam! Nos dois andares acima da sala de administração da ONG, mora o presidente da organização em uma casa de luxo com todos seus familiares: esposa, filhas, genros, netos... Estranho, né? Corrupção tem no mundo todo!

Saímos, perto do meio dia para ir até o prédio local do governo, onde há seções de diversos ministérios. Fomos até a pessoa que controla o departamento de projetos e trabalhos das ONGs no Estado e, para a minha surpresa, era uma mulher! Ela tinha o semblante bem fechado e parecia ser uma pessoa muito séria. Acredito que ela precise ser assim, uma vez que é uma das únicas mulheres lá e há poucas delas em cargos deste escalão.

Voltamos para a ONG perto das 15h, depois de conhecermos o trabalho burocrático que é feito junto ao Governo. Quando chegamos à sede da ONG, as pequenas netas do presidente nos convidaram para conhecer a sua casa. Subimos e ficamos deslumbradas com a quantidade de cômodos, móveis, pinturas, tapetes e pessoas que viviam ali. As simpáticas mulheres da casa nos ofereceram comida, mas estávamos atrasadas e saímos dali correndo para chegar ao IIT, porque eu teria um seminário às 17h.

O pessoal da ONG explicou que durante a quinta e a sexta-feira aconteceria um festival local, então não precisaríamos trabalhar. Boa notícia para a Lua, que correria para Calcutá logo na manhã do dia seguinte, mas má notícia para mim, que ficaria sozinha nos próximos dias, em Kharagpur, já que precisaria trabalhar no sábado. Yay.

Chegamos ao campus e comemos nosso seguro (e gorduroso!) egg roll, fomos até a biblioteca responder e-mails e seguimos para o meu local de apresentação.

Os alunos estavam atrasados e, quando decidi ir embora, chateada e frustrada novamente com o meu trabalho, eles estavam chegando. Avisaram que a aula em que estavam havia atrasado. Um pouco mais animada, comecei, então, a apresentação, que durou cerca de 45 minutos. Eles pareciam bastante interessados e, inclusive, fizeram perguntas e participaram no final!

Saímos da apresentação, minha fiel amiga Lua e eu, e fomos encontrar o Felipe e um pessoal da AIESEC para uma happy hour fora do campus. Fomos a um restaurante, onde as únicas mulheres éramos nós, comemos batatas fritas e tomamos um pouco de cerveja. Senti-me em casa! É bom ter estas descontrações de vez em quando para que o tempo passe mais rápido... O Felipe encontrou um alemão que vive no dormitório onde ele mora, no campus, e convidou-o a juntar-se a nós. Outro “branquelo” para chamar atenção por aí!

Lembro-me que, em alguma parte da noite, estávamos conversando sobre idiomas e o Felipe me perguntou o que era, afinal, “saudade”. “Saudade?” - perguntei. Ele respondeu que havia lido a palavra em algum lugar e soubera que só existia no Brasil. É difícil explicar saudade. Tentei, com toda a minha modesta capacidade intelectual, elucidar o que significa saudade, mas tive de exemplificar: “Saudades, por exemplo, é o que sinto hoje. Eu sinto saudades do meu país, minha família, meu namorado. Acho que, resumidamente, saudade é o ato de sentir muita falta de alguém ou alguma coisa”. Tá bem. Mas e porque dizer saudade? Por que não dizemos só “sinto sua falta” ou “sinto falta disso” como o resto do mundo? Acredito que nós, brasileiros, nos sentimos tão bem em nosso país, em nossa casa, que não bastaria dizer que se sente falta do lar. Agora, saudades é uma palavra que carrega um significado muito mais amplo, muito mais cheio de sentimento do que um acanhado “sinto sua falta”. O que vocês acham? Alguém aqui sabe me explicar de onde veio esta palavra?

Cheguei ao apartamento quase à meia-noite e fui direto para a cama. Continuei pensando sobre as saudades... Eu sinto saudades de todo mundo o tempo todo! Mas por que é tão difícil de explicar aos outros o que esta pequenina palavra representa?

Quinta-feira, 14/01

Hoje não tinha de trabalhar. Estava louca de vontade de dormir o dia todo, para esperar o tempo passar, mas meus queridos pais me ligaram, preocupados, às 7h da manhã! Ainda no transe do sono, conversei com eles e voltei a dormir. Às 8h30min, a faxineira começou a bater na porta e a Lua levantou para abrir. Como de costume, fez sua breve limpeza e foi embora. Estava quase pegando no sono novamente, quando o celular da Lua despertou. Eram 10h e ela iria começar a se ajeitar para pegar o trem. Ficou fazendo barulho e eu tentando dormir novamente.

Quando ela foi embora, pelas 11h, peguei de novo no sono e só levantei às 16h! Queria tomar um banho, mas não havia luz desde a madrugada. Saí para o campus, direto para a biblioteca acessar a internet, e fui ao novo café, comer o seguro Chicken Burger. Às 20h, compareci a uma reunião da AIESEC local com os novos membros, voltei ao café com o pessoal daqui e eles me trouxeram até em casa, onde tomei meu banho e espero o tempo passar, sozinha.

Amanhã, vamos saber se conseguiremos nos mudar para o campus!

Sexta-feira, 15/01

Hoje, como a ONG não iria funcionar e meu projeto só se daria no sábado (pois o professor está viajando) e a casa estava vazia, tirei o dia para dormir (de novo). É muito complicado dormir continuamente aqui, pois todo mundo faz barulho por todos os lados o tempo todo! A faxineira chegou às 8h30min, fez sua habitual limpeza enquanto eu arrumava algumas coisas, e foi embora logo em seguida.

Dormi de novo até perto das 10h, quando acordei meio enjoada. Acho que minha má alimentação e preguiça de carregar as enormes garrafas d’água estão começando a meu prejudicar por aqui.

Tomei um dos shakes de proteínas da Lua, um soro reidratante e continuei lendo meu muito útil livro. Shihir me ligou para dizer que havia um quarto no campus e que eles viriam me buscar às 17h para eu me mudar.

Coloquei todas as minhas coisas de volta na mala e passei o dia esperando. Faceira que estava, cheguei ao campus com minhas duas malas em um pequeno Rickshaw e o quarto era ótimo! Tinha até chuveiro de água quente! Desconfiei.

Meia hora mais tarde, o Shishir aparece no quarto e disse que havia tido um engano e que eu teria de voltar para o flat no próximo dia para esperar a Sandra, a menina mexicana que estava chegando. Por que me fizeram ir até o campus, com todas as minhas coisas, para voltar pro flat no dia seguinte?

Cansada de tantas frustrações com o projeto e com essa desorganização deles, comecei a chorar e só consegui parar perto das 21h, quando trouxeram o presidente do comitê local da AIESEC para me prometer que os problemas da água e da eletricidade no flat seriam resolvidos, bem como conversariam com o professor sobre o jeito que ele está lidando com o meu projeto. Ótimo!

Naquela noite o pessoal saiu para tomar uma cerveja, mas eu não fui junto, pois estava sem vontade de nada. Inclusive de escrever sobre tudo isso.

Sábado, 16/01


No sábado pela manhã tinha duas apresentações sobre HIV/AIDS, que começavam às 9h30min. Deixei tudo pronto para voltar para o apartamento medonho e segui a pé para o local dos seminários. Cheguei em cima da hora e já tinham mais de 50 alunos esperando por mim. Fiquei animada, pois parece que eles estão começando a dar um pouco mais de valor ao meu projeto.

Os dois grupos também responderam bem às minhas apresentações e, antes do meio dia, já estava indo embora. Um professor do centro me perguntou se eu não queria comer alguma coisa ali. Receada que sou com a comida daqui, disse que não, mas ele insistiu. Fomos até a cozinha, onde ele disse algo em híndi ao capataz que cuida das máquinas e este abriu um armário, retirou um embrulho de jornal, abriu-o e me mostrou alguns pastéis – pelo menos pareciam pastéis. Eu insisti que não estava com fome, mas o capataz pegou (sim, com a mão imunda) o pastel e colocou em um pratinho. Inventei uma desculpa e saí correndo dali! Parei para comer na cafeteria usual e fui para o quarto pegar minhas coisas.

Voltei para o flat e passei a tarde organizando as minhas coisas enquanto esperava por Sandra, a mexicana. Ela chegou às 17h30min, já estava escuro e não tínhamos eletricidade. Só largou suas coisas no chão do quarto e fomos ao campus comer.

Compramos alguns Cup Noodles salvadores, uns quatro litros de água mineral e fomos ao seguro café, onde encontramos algum pessoal da AIESEC e o Felipe. Comemos, conversamos um pouco e retornamos, junto com o Felipe, ao flat. Sandra ficou ajeitando suas coisas e conversamos em espanhol. Tão bom não falar inglês por algum tempo! Querida que é, ela trouxe duas garrafas de tequila para dividirmos quando as saudades de casa e as frustrações tomarem conta de nossos pensamentos. Como ela e o Felipe ficam aqui até maio (e vocês falando que eu sou corajosa...), a bebida precisa durar até lá!

Quando a cama dela chegou, perto das 10h, Felipe aproveitou para ir embora e nós nos ajeitamos para dormir, já que ela estava muito cansada dos quase dois dias de viagem ininterrupta. Como eu entendo o que ela passou, resolvi ser solidária, apagar a luz e também me deitar antes das 23h.

Um comentário:

  1. ok
    Aqui todos muito bem ,acredito que tu devas aproveitar mais aIndia e dormir menos ,todos aqui estao maravilhados com as tuas aventuras,continua firme, como o pai sempre te falou,devemos estar preparados para tudo, e acredito que estas preparada, vive a INDIA com se fosse a ultima vez que vai passar por ai.att Valnei

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