Sábado, 09/01
Hoje pela manhã, fiz meu primeiro seminário sobre HIV/AIDS aqui. Às 9h30min, ainda meio apavorada, comecei a falar para cerca de 40 alunos em uma sala de aula apertada. O começo foi meio nervoso, porque eu não entendia se eles estavam mais curiosos com o assunto ou com a minha pessoa.
Havia preparado uma atividade com perguntas para eles responderem e comecei a jogar balas para os que acertavam. Durante as respostas, eles começaram a gritar e participar de um jeito que eu não esperava e, no fim, esperaram para me fazer perguntas (sobre HIV!). Foi muito mais interessante e recompensador do que eu pensei que seria e eu saí de lá muito feliz de estar aqui, pela primeira vez desde que cheguei. Saí de lá sentindo que fiz uma pequena diferença no mundo.
Saímos da sala, o meu fiel escudeiro Rahul e eu, e fomos para a sala do professor responsável pelo projeto. Ele queria dizer (do jeito introspectivo e sem muitos sorrisos dele) que tinha gostado muito do meu trabalho e que já havia marcado mais alguns seminários para essa semana - inclusive, dois no sábado que vem, estragando possíveis planos de viagem.
Dali, fomos encontrar o Felipe (intercambista chileno) nos arredores da biblioteca. Pegamos um Auto Ricksha(que é, na verdade, uma carroça motorizada) e fomos até a estação para pegar o trem para Calcutá. Felipe e eu compramos bilhetes para o trem das 13h30min e esperamos até às 15h, quando o trem finalmente chegou (até então, até a alça da minha mochila tinha arrebentado). Embora a India tenha sido colonizada pela Inglaterra, a pontualidade britanica ficou, mesmo, lá nos arredores de Londres.
Vimos que o trem estava lotado e pagamos um pouco a mais para irmos nos compartimentos com "camas", que, na verdade, não são camas, pois as pessoas devem sentar para que todo mundo se acomode. Demoramos, ainda, três horas para chegar a Calcutá, porque o trem parou em várias estações antes. Quando chegamos, já estava escuro e eu ia para a casa do Mallick e o Felipe para a casa dos intercambistas da AIESEC aqui. Pela primeira vez, desde que cheguei, eu estava sozinha.
Peguei um táxi pré-pago e, torcendo para que a bateria do celular não morresse no meio da ligação, liguei para o Mallick para ele explicar ao taxista onde era sua casa. Tive sorte, pois a bateria terminou na hora em que o motorista entendeu aonde eu queria chegar.
Cheguei sã e salva ao meu destino, meia hora depois, apavorada com a caoticidade do trânsito em Calcutá. Não tem sinalização, faixa de pedestre, divisórias nas ruas e a mão é inglesa. Todo mundo vai buzinando e se atravessando, sem seus espelhos retrovisores, diga-se de passagem. No caminho, já vi onde queria jantar: Mcdonalds!
Já em casa, tomei um banho, de balde claro, com um pensamento engraçado: quando cheguei aqui, meu primeiro choque cultural foi ter de tomar banho com um balde, o que me deixou frustrada e apavorada. Hoje, eu estava muito feliz por ter água limpa e quente para tomar banho, mesmo que fosse no balde mesmo.
Saímos para jantar, o Mallick, a Lua e eu, por volta de 21h. Fomos ao Mcdonalds, onde eu queria ir desesperadamente, e eu pedi McChicken, McNuggets, batata frita e coca-cola (nem no Mc tem carne bovina por aqui). Estava tão feliz em comer alguma coisa ocidental e sem pimenta, que comi super rápido e sem dizer uma palavra! Saímos de lá e fomos a um bar, em um hotel super chique. Tomamos umas cervejas e comemos algumas frutas (sim, eles servem frutas nos bares). As músicas que estavam tocando eram boas, a maioria era norte-americana. Tocou de Rolling Stones a Madonna, até que, de repente, pensei: "opa, mas esse ritmo é familiar!"
Inacreditavelmente, uma voz conhecida entoa uma letra mais ou menos assim: “Chooooooooorando se foi, quem um dia só me fez chorar!”. O bar estava quase vazio, e as pessoas que ali estavam levantaram-se e foram dançar. Parece-me que esta é uma música muito popular aqui! Quem diria.
Fui ao banheiro do bar, no hotel luxuoso, e era limpo como eu nunca vi por aqui! Acho que fiquei mais tempo lá dentro do que no bar, feliz só de ver um banheiro cheiroso e limpinho daquela maneira.
Voltei para a nossa mesa, a fim de comer mais algumas frutas, e o Mallick e a Lua estavam dançando, no meio da pista, uma música norte-americana que agora eu não lembro o nome. Lembram como os indianos dançavam em “Caminho das Índias”? Poisé. Na realidade, é mil vezes pior e mais escandaloso. Ele estava tentando ensinar para ela alguns movimentos ligeiros e saltitantes e eu passei reto, tentando me esconder, mas, lerda como sou, eles me convidaram para ir dançar com eles. Fiz um sinal tentando dizer que não me sentia bem, sentei e fiquei bem encolhida na nossa mesa.
Saímos cedo do bar, pela uma da manhã e voltamos para casa, onde, finalmente, acessei a internet de novo e consegui por os assuntos em dia com a família e o namorido.
Capítulo final
Há 14 anos
"Jesus acende a luzzzzzzzzzzzz,...sorte para ti amiga e muita paciência também,....beijos!!!!!Luzi
ResponderExcluirÉ isso aí, Vanessa. Eu comentei contigo que deveria ser difícil, mas não imaginava tanto. É uma baita experiência. Aproveita ao máximo, pois, realmente, será inesquecível.
ResponderExcluirAbração e tudo de bom,
Deni
Nossa! "Chorando se foi", na India! Até aí gata? Meu deus, que coisa em... Pois bem, continuam as experiências novas e as diversas coisas que passam na tua cabeça ao ver uma realidade até então inimaginável para ti! Segue firme e forte nessa adaptação!
ResponderExcluirBeijos!!!!
Adriano
É isso aí, guapa, segue em frente! =]
ResponderExcluirPõe "ironia do destino", né? Emocionar-se ouvindo Lambada. São esses sentimentos estranhos, aliados às boas experiências que temos aí que fazem elas se tornarem inesquecíveis.
Boa sorte!