quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Are baba... (continuação)

Para chegar até a estação de Calcutá e conseguir pegar o trem das 17h30min para Kharagpur, saímos da casa do Mallick de táxi e nos encontramos no meio do trânsito maluco de Calcutá. As ruas têm mãos inglesas e a maioria dos motoristas não tem retrovisores, então, eles buzinam para avisar que estão passando! Ali, comecei a notar como eu chamo atenção aqui, porque as pessoas não são acostumadas com pessoas brancas, cabelos lisos e claros e olhos azuis. Eu estava dentro do táxi e, ainda assim, as pessoas nos carros que paravam ao lado ficavam olhando para mim com uma curiosidade quase infantil.
Chegamos a tempo de pegar o trem na estação caótica. Ao entrar no trem, já cheio, o compartimento para as bagagens dos nossos assentos haviam sido tomados por malas de outras pessoas. Mallick, que me ensinou que temos que ser fortes e agressivos ao falar com as pessoas aqui, armou uma enorme discussão em hindu com os homens que haviam tomado nossos lugares. E não é que eles cederam e nós tivemos onde por as bagagens?
Após duas horas de viagem com um barulho parecido com uma desritmada bateria de escola de samba e com uma sensação constante de descarrilamento, alcançamos nosso destino. Chegamos à estação de Kharagpur (a maior do mundo, com um mais de quilômetro de extensão, segundo eles), onde três meninos da AIESEC (não sei nem pronunciar seus nomes!) estavam nos esperando para nos levar para nosso apartamento.
Chegamos ao apartamento – no prédio onde fica um templo! - de dois quartos e um banheiro, com duas camas de armar, colchões e travesseiros novos que os meninos da AIESEC haviam comprado. Só. A cozinha (sem fogão, geladeira e utensílios) e o outro banheiro (o único com água quente) ficam no andar de baixo, separados dos quartos. Havia, ainda, camadas e mais camadas de pó e teias de aranha. Mas amanhã a empregada vem limpar tudo para deixar o apartamento em condições habitáveis para a gente, já que em duas semanas chega nossa nova colega de quarto, uma mexicana. Um parêntesis: a empregada vai limpar nosso apartamento todos os dias e lavar nossas roupas por 350 rúpias mensais, ou seja, sete míseros dólares.
Moramos ao lado do senhorio e, quando subimos com as bagagens, ele veio logo atrás de nós. Ele viu que os meninos da AIESEC subiram para deixar nossas bagagens e queria ter certeza que a Lua e eu iríamos dormir sozinhas no apartamento, já que ele mora com toda a sua família na casa ao lado e são muito conservadores. Tão logo ele subiu, os meninos da AIESEC já estavam descendo.
Após largarmos nossas coisas, fomos até o campus do IIT Kharagpur jantar com outros membros da AIESEC, inclusive um intercambista chileno, outro que, como eu, fica chamando a atenção por seu bronzeado às avessas.
Tentei pedir as comidas menos temperadas, mas tudo é muito picante aqui, inclusive o arroz carrega pedacinhos de pimenta. Comi um arroz com vegetais, lentilha apimentada e batatas com pimentas (sim, comida vegetariana). Tentei pedir o x-burguer no cardápio, mas era pão com vegetais (inclusive pimenta).
Voltamos para casa de Rikshaw, um meio de transporte meio inusitado: um homem puxa uma micro-carruagem para duas pessoas com uma bicicleta. O pessoal da AIESEC aqui é bem preocupado com a gente e muito gentis. Dois deles vieram em outro Rikshaw, nos seguindo, até que entramos em casa e foram embora.  
Amanhã de manhã vamos ao mercado comprar algumas coisas essenciais à nossa sobrevivência, como veneno para mosquitos, lixeiras (!), copos, pratos, talheres e frutas.
Ah, amanhã também vamos conseguir a internet para o apartamento e o celular que eu preciso para eu me comunicar com o mundo ocidenal.
A solidão continua difícil, especialmente na hora de dormir, mas eu fico feliz que tenho a Lua comigo. Já que somos duas sozinhas nos fazemos companhia. Ela é muito legal, também é organizada, tem mania por limpeza e odeia comida apimentada. Tenho sorte de dividir o que estamos passando com uma pessoa como ela e de estarmos nos dando tão bem, mesmo que ela seja lá do outro lado do mundo. Ou melhor, aqui do outro lado do mundo...

Um comentário:

  1. Que bom que tu conseguiu uma colega de quarto parecida contigo nesse sentido porque aí tem outra pessoa passando pelo mesmo que tu; capaz de entender como é difícil. Se fosse diferente, ela poderia achar que tu era uma fresca :P Eu morreria sem chuveiro quente :| Bjo

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