quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Namastê!

Domingo, 17/01

Acordei com todos os sintomas característicos de uma gripe: febre, dor no corpo, fraqueza, dor de cabeça e de garganta (hoje já estou muito melhor!).
Como os outros membros do projeto da Sandra haviam marcado uma reunião no domingo (esse pessoal da tecnologia é igual no mundo todo, só muda de país!), passei o dia e a noite no apartamento, lendo e aproveitando um pouco o silêncio e a solidão.

À noite, Sandra e eu conseguimos a proeza de encomendar batatas fritas para jantar. A gente estava morrendo de fome e o cara demorou quase duas horas para entregar a comida, que não tinha um aspecto muito gostoso. Mas, quando a gente está morrendo de fome e não tem opção, qualquer porcaria é válida! Tentamos ver um filme novo, que o Felipe havia nos passado, mas pegamos no sono e não conseguimos assistir até o final.

Segunda-feira, 18/01

Hoje eu estava louca para ir trabalhar e ocupar a minha mente ociosa, mas todos os estabelecimentos estavam fechados. O motivo? Um antigo chefe de Estado de West Bengal faleceu na noite de domingo e todos estavam de luto. Então, este foi o dia de apresentar à Sandra o incrível campus de Kharagpur! Passamos o dia todo entre a biblioteca e os “pontos seguros” para comer alguma coisa por aqui.

O ponto alto da segunda-feira foi durante o anoitecer, quando precisei comprar absorventes no pequeno mercado de Kharagpur. Por muita sorte, só a pequena e suja farmácia estava aberta, então corri para lá. O atendente baixou a cabeça e não olhou mais para mim depois que eu usei a palavra “absorvente”. Então, eu apontava para o pacote retangular azul, enquanto ele tentava, sem olhar, alcançá-lo na estante com a mão. Ainda sem me olhar fez um gesto indicando trinta rúpias, mas eu precisava de dois pacotes! Lá fomos nós de novo. Ele sem me olhar e eu, indignada, catando sessenta rúpias na bolsa.

Terça-feira, 19/01

Mais um dia estava eu, pronta para ir para a ONG, quando eles nos ligaram e disseram que não poderíamos ir trabalhar naquele dia (!) e não quiseram ao menos explicar por quê.

Entediadas, Lua e eu decidimos ir sozinhas ao grande shopping de Kharagpur, mais conhecido como Big Bazaar ou Puja Mall, para comprar algumas coisas que estávamos precisando, como comida, por exemplo.

Sozinhas, e sem fazer perguntas a ninguém, pegamos o autorickshaw e, com mais sorte que juízo, conseguimos chegar sãs e salvas ao nosso destino. Claro que o shopping aqui na cidade é um projeto de centro comercial, mas encontrei a mochila que estava precisando para viajar e adquirimos pacotes de miojo, água e bolachas.

Aproveitamos o restaurante de comida chinesa do local para almoçarmos, às 16h30min, e saímos de lá, andando até um bonito templo próximo, que havia nos chamado a atenção no caminho, para visitar o local. Não distinguimos quais os Deuses eram mencionados ali, mas notamos que Lord Ganesha estava bem no centro do hall principal, de costas para a entrada e encarando o altar dos outros deuses, todos enfeitados com enormes colares de flores laranjas e amarelas. Infelizmente, não é permitido tirar fotos dentro destes lugares religiosos.

Ainda sozinhas e já escurecendo lá fora, decidimos que era hora de voltar para casa. Pegamos um autorickshaw até a estação de trem e, de lá, pegamos outro até o apartamento. Esta segunda viagem foi a experiência mais indiana que tive até agora. Na carroceria lotada, fui semi-sentada em um banco, de frente para a Lua, carregando três sacolas de compras, com metade do corpo para fora do veículo e me segurando em uma barra de ferro. Cada vez que o motorista fazia uma conversão à direita, a impressão que eu tinha é que ia voar alguns metros para fora do “veículo”. À frente do IIT, algumas pessoas desceram deixando mais espaço para que eu pudesse me acomodar decentemente.

Depois de um banho, fomos ao campus a fim de tomar um café e esperar pela Sandra, que havia passado o dia envolvida com seu projeto. Avistamos umas meninas muito feias, vestidas em sarees festivos, e logo descobrimos se tratar de meninos. Pensando que havia visto meu primeiro travesti indiano, descobri que era apenas uma gincana entre as casas de residência dos estudantes e que, nesta prova, meninos se fantasiavam de meninas e vice-versa para arrecadar pontos para suas equipes. Are baba!

Este fim de semana, nós tínhamos planos para ir visitar Sikkhim e ver um pouco dos montes cobertos de neve que caracterizam este estado, mas não poderemos seguir viagem porque eles não permitem que estrangeiros entrem em vários lugares do estado, que faz fronteira com a China. Decepcionada com mais esta frustração, fui dormir pensando no que poderemos fazer para sair de Kharagpur esse fim de semana.

Um dos lados mais positivos de se estar aqui é aprender que, não importa o quão frustrado você vai ficar. É necessário sempre ter paciência, contar até dez e encontrar outra alternativa.

PS: mãe, já tô sem febre, sem dor de cabeça e com muito mais disposição!

3 comentários:

  1. Então, resumindo, tu não trabalha e é difícil de comer decentemente! hahaha

    melhoras, vanessa! e aproveita aí!!
    beijo!

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  2. Amor do tio,ir ao Nepal nem pensar???
    Se precisar,pede que te envio mel e cachaça prá gripe.Limão deve ter por aí...

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  3. Eu sei que deve ser muiiito difícil p/ ti passar os dias sem nada p/ fazer, sem nada para conhecer e sem muitas perspectivas. Mas, acho que tu deves procurar... talvez tentar fazer um documentário. Deve ter muita coisa sobre a cultura indiana, que é fascinante...
    Te cuida muito minha filha. Te amo.
    Sandra

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