Segunda-feira, 01/02
Descobri que a Lucia, intercambista eslovaca, vai trabalhar comigo na ONG. Por isso, combinamos que o pessoal de lá viria nos buscar perto do meio-dia para irmos conhecer mais vilarejos atendidos pela Organização.
Durante a manhã, as minhas companheiras de casa foram dar uma corrida no campus e comprar água e frutas para abastecer nossa modesta despensa. Convidaram-me para me juntar a elas, mas minha característica preguiça e aversão à prática esportiva me mandaram continuar na cama. Além de ser completamente louca, Lucia é muito ativa e odeia perder tempo dormindo ou ficando parada (blé).
Eu estava me sentindo muito melhor das dores no meu estômago, e não tive problemas para me levantar bem e disposta e ir à ONG. Então, liguei para o secretário e ele me disse que nos buscariam depois que almoçássemos.
Seguimos para o campus para almoçar. As gurias iriam comer no refeitório do dormitório do Felipe. Como eu estava melhorando, resolvi comer só um sanduíche e tomar um chá gelado na cafeteria para não me arriscar com a comida indiana, pelo menos por enquanto. No meio da minha pequena refeição, recebi uma ligação do secretário da ONG: mais uma vez, estavam com alguns problemas e não poderiam ir nos buscar. Decidimos, então, ir ao mercado para fazer nosso estoque semanal de comida. Desta vez, eu guiei todo mundo em segurança até o Big Bazaar!
Contrariando as leis da física, estávamos em dezesseis pessoas (seis crianças!) em um autorickshaw com espaço para dez passageiros. Novamente, eu fui a sorteada para viajar com metade do corpo para fora do veículo. Tranquila e desconfortavelmente viajei pensando na ironia de ser eu a pessoa menos fresca e menos medrosa do grupo (entre o chileno, a mexicana e a eslovaca).
Sem problemas, alcançamos nosso destino, fizemos nossas compras e voltamos para o campus já sem a luz do dia.
Direto do campus, saímos para ir ao restaurante Little Sisters, onde combinamos de fazer uma recepção para Lucia, a eslovaca louca (sentiram a cacofonia proposital?).
Eu estava morrendo de fome e pedi arroz e frango para comer. Bebi um copo de cerveja só para brindar com os amigos a chegada de mais uma companheira. O que eu não sabia era que estava prestes a descobrir o tipo de companheira que teríamos em casa pelas próximas semanas.
De cara, ela pediu uma dose de uísque, e mais uma e mais outra. Esta última, ela bebeu de um gole só. Eu estava achando divertido ver ela, bêbada, tirando com a cara de todo mundo e fazendo piadas com tudo, porque aqui, humor é uma coisa muito rara.
Isto até que pedimos a conta e veio junto uma espécie de açúcar grosso, que eles oferecem, aqui, no final das refeições. Lucia amassou todos os flocos com um copo até que virassem pó, enrolou uma nota de dez rúpias e aspirou ao açúcar. Todos paramos de rir na hora, porque até nós, firangis, sabemos que isso não é tipo de brincadeira que se faça na Índia. Contudo, para a minha surpresa, os dois indianos que estavam conosco acharam engraçado e fizeram o mesmo (odeio gente que não sabe beber!).
Pegamos um táxi para voltar para o flat e, como de costume, os indianos nos acompanharam, uma vez que é perigoso andarmos sozinhas à noite. O táxi era uma mini-van e Sandra e eu entramos primeiro no banco de trás. Lucia sentou de frente para mim e Nino, um dos indianos da Aiesec, sentou de frente para Sandra. O outro indiano, que nós chamamos de Stryker (algo como atacante, em inglês), foi sentado na frente, ao lado do motorista, de costas para Lucia.
Sandra e eu estávamos embaraçadas com a gritaria e o motorista também não parecia muito feliz. Do nada, Lucia abriu a janela e colocou a cabeça para fora. Do banco da frente, Stryker fez o mesmo e ela agarrou a cabeça dele e começou a beijá-lo. O motorista parou o carro na hora e Sandra e eu nos olhamos, com a maior sensação de vergonha alheia que já senti. Os dois, então, colocaram suas cabeças de volta para dentro e seguimos o caminho com as risadas e gritos de Lucia.
Chegamos à frente do flat, pagamos o táxi e descemos o mais rápido possível. Sandra e eu apenas acenamos para os indianos e entramos no portão. Lucia ficou para trás.
Virei a cabeça para ver se ela viria logo, pois estávamos quase com a chave no cadeado e vi o inacreditável: ela agarrou a cabeça de Nino e beijou-o também. Fiquei chocada, pois, na noite anterior, ela havia nos contado que namorava um soldado norte-americano, que trabalha na Coréia, e que era muito apaixonada por ele.
Chamamo-la para que viesse de uma vez e entramos no apartamento em silêncio. No quarto, ela se atirou na cama e pegou no sono quase que instantaneamente. Em espanhol, Sandra e eu discutimos o ocorrido da noite e eu cheguei apenas a uma conclusão: eu não me importo que ela se comporte dessa maneira. Afinal, eu não sou preconceituosa ou pudica o suficiente para condenar as ações dos outros. E também não são os meus costumes que ela está ofendendo.
Contudo, o que me indigna é que se eu for para o país dela ter este tipo de comportamento, é porque eu sou “a brasileira” ou “a latina”. Idem aqui. Brasileiras no exterior têm que lutar todos os dias contra os estereótipos que nos são impostos pelas diferentes sociedades. Mas, ainda assim, eu não vi nenhum de nós, latinos (lembrando que somos três latinos, uma asiática e uma européia), ter qualquer tipo de ação que fosse ofender os costumes indianos!
Já a européia chegou enlouquecida(e nos enlouquecendo)e ninguém diz: “Ah, olha lá! Tinha que ser européia mesmo!”. Concordam? Discordam?
Mas o pior ainda estava por vir. Fiquei mais um tempo acordada, acessando a internet, e peguei no sono perto das duas horas da manhã. Quando estava naquele estágio meio dormindo, meio acordada, despertei completamente com um barulho e um cheiro estranhos.
Lucia estava parada junto à porta do quarto, tentando abrir a trava e não conseguia. Encostou-se contra a parede e eu, compadecida, me levantei para ajudar. Quando me aproximei dela para abrir a porta, usando a luz do meu celular, enxerguei suas calças molhadas nos fundilhos e na lateral esquerda. Olhei para a cama que ela ocupa, à minha esquerda, e vi o colchão todo molhado.
Abri a porta e ela passou. Sandra acordou e perguntou o que estava acontecendo, mas eu ouvi outro barulho. A bêbada estava tentando abrir a porta de casa ao invés da do banheiro!
Novamente, me dirigi a ela e encaminhei-a até a porta do banheiro. Voltei para o quarto e, em espanhol, contei à sonolenta Sandra o que estava acontecendo. Como se pensasse que estive sonhando, ela se virou e voltou a dormir.
Deitei e fiquei escutando Lucia tentar lavar suas calças. E depois somos, nós, latinos, que patrocinamos fiascos internacionais...
Capítulo final
Há 14 anos
E depois falam das Brasileiras mesmo.. se em poucos dias ela fez isso, imagina em semanas.. Mas pelo menos ela tem senso de humor hahahah
ResponderExcluirbeijoos sis.
Te cuida ;* s2
nathi
Tá,mas ela fez o que nas calças??
ResponderExcluirE depois, na volta do banheiro?? E como foi prá acordar essa vacaeslovaca??hehehehehe
QUE BARBARIDADE! espero que ela não tire vocês do sério!
ResponderExcluiramooooore, to amando tuas aventuras, acompanhando sempre que posso (quando tento me desviar dos estudos)!
espero que melhores de vez da dor no estômago!
e volta logo! bjooo. wal
Aaaaaare baba,que maluca!Vergonha alheia total! Bom,mas aqui na Europa pelo que eu ouvi falar as eslovacas são bem conhecidas pela putaria :P
ResponderExcluirUm italiano me disse que,para um europeu,as mulheres mais desejadas são as brasileiras,as mexicanas,as suíças e as eslovenas (na real de qualquer parte do leste europeu,mas as eslovenas são as mais famosas).